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Visão Zero: segurança viária levada a sério

Por Felipe Alves

Em contraponto às campanhas de segurança viária citadas semana passada, que insistem na responsabilidade compartilhada das pessoas no trânsito, vou falar do programa Visão Zero. Adotado pelo parlamento sueco em 1997, adota a premissa que qualquer morte no trânsito é inaceitável, e tem a ambiciosa meta de zerar as mortes. A visão aceita que erros humanos no trânsito sempre acontecerão, mas defende que não precisam resultar em mortes ou ferimentos graves.

Daí surge a abordagem de Sistemas Seguros (também utilizada no programa Segurança Sustentável, na Holanda), que coloca no governo a principal responsabilidade para projetar sistemas que evitem as mortes no trânsito, atuando em diversos aspectos das cidades – desde planejamento dos espaços, segurança dos veículos e até atendimento de emergências. Apesar da responsabilidade, os governos ainda devem atuar junto da sociedade e setor privado para reduzir as ocorrências, mas não focar em procurar culpados pelos ferimentos e mortes no trânsito, e sim em promover mais segurança.

Mesmo se provando eficientes e evitando mortes, algumas das ações postas em prática na Suécia ainda geram polêmica no Brasil, como a redução de velocidade para 30 km/h em vias onde pedestres circulam desprotegidos junto aos carros, e 70 km/h para estradas de pista única, com chance de impacto frontal. Essas e outras medidas diminuíram em 80% as mortes nas estradas, e colocam o país entre os primeiros do mundo com menos mortes. Algumas cidades já conseguiram efetivamente zerar as mortes.

Em taxas proporcionais à população, o Brasil registra 7 a 8 vezes mais mortes. Em números absolutos, temos o quarto maior número do mundo – mais de 33 mil por ano. Para reduzir substancialmente este número, o governo precisa agir, e não somente com campanhas responsabilizando as pessoas. É necessário redirecionar investimentos para construção de infraestruturas seguras, fortalecer as instituições que trabalham com o assunto, melhorar a legislação de trânsito e fiscalização. A receita já existe, basta copiar.

 

Felipe Alves é engenheiro civil e atua com mobilidade urbana sustentável. Ex diretor da UCB – União de Ciclistas do Brasil, é coordenador do GT Infraestrutura da UCB e do projeto Ciclomapa (UCB e ITDP).

 

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Artigo de Opinião enviado pelo autor para publicação no Observatório da Bicicleta e publicado originalmente em Opinião Direto ao Ponto.

 

 

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