| | | | | | | |

Qual a proporção de ciclistas em treinamento na orla da Pampulha?

Por Cristiano Scarpelli

 

O presente estudo propõe verificar a proporção das atividades de treino com fins atléticos na orla da Pampulha frente a outras atividades ciclísticas praticadas no local, como aquelas exercidas por motivo de deslocamento ou lazer/recreação. Para isso, compararam-se os dados do Strava Metro com números das contagens de ciclistas realizadas anualmente pela associação BH em Ciclo, entre o horário das 07h às 19h. O detalhamento da metodologia pode ser lido ao final.

Vale ressaltar que a principal premissa adotada neste estudo foi de que todo usuário do Strava na orla da Pampulha seria um ciclista em treinamento, o que, apesar de não corresponder à realidade, fornece uma estimativa razoável da representatividade MÁXIMA dos praticantes de ciclismo de treino no local.

 

Resultados

A tabela abaixo traz a comparação em percentual dos números do Strava Metro com os números da BH em Ciclo. Foram realizadas duas comparações com os dados da entidade no mesmo horário e no mesmo trecho em que é feita a contagem anual de ciclistas. Também foram feitas mais duas comparações através de cenários hipotéticos fora do horário contabilizado pela BH em Ciclo.

 

Na coluna 1 tem-se o percentual de atividades registradas no Strava no sentido horário () entre 07h e 19h, dividido pelo total da contagem da BH em Ciclo no mesmo período (excluindo os que seguem pela Heráclito Mourão) e em ambos os sentidos (), representado por esta fórmula:

 

Nota-se que, no período de 12 horas, entre 07h e 19h, a possível representatividade de atletas em treino que pedalam no sentido horário seja de algo em torno de 16% do total de pessoas a utilizar a bicicleta em ambos os sentidos, pouco variando nos 3 anos em que foram realizadas contagens de ciclistas presenciais pela associação.

Na coluna 2, faz-se a mesma comparação, mas, no caso da contagem da associação, desconsideram-se os que pedalaram no contrafluxo (sentido anti-horário da lagoa), resultando na seguinte fórmula:

 

Neste caso, a possível representatividade de ciclistas em treino passa para perto de 22% do total. Interessante notar que o ganho de representatividade é pequeno, o que indica que a maioria dos não atletas também prefere seguir no sentido horário da orla.

Nas colunas 3 e 4 adotaram-se dois cenários hipotéticos de qual seria a participação dos atletas durante o período de um dia inteiro (24 horas). Isso é importante, pois observou-se que, de segunda a quinta, em média, 60% dos registros do Strava ocorrem fora do horário aferido pela BH em Ciclo. É provável que isso ocorra pelo fato dessa faixa de horário ter menos fluxo de trânsito de motorizados e menor potencial de conflito com outros ciclistas, sendo mais propício para treinos.

Assim, caso a proporção dos ciclistas em treino antes das 7h e depois das 19h (7h+5h) fosse de 50%, teria-se um número de atletas igual ao de não atletas. Portanto, para estimar o número total de ciclistas no período basta dobrar o número aferido pelo Strava nesta faixa de horário:

 

Neste cenário, a representatividade dos atletas melhora um pouco, variando de 25% a 29% a depender do ano.

Por fim, caso antes das 07h e depois das 19h somente atletas pedalem na orla, tem-se a seguinte fórmula:

 

Interessante notar que, mesmo neste cenário improvável, a representatividade diária dos atletas dificilmente passa de um terço em dias de semana, variando de 29% a 36%.

 

Conclusão

O presente estudo se propôs a verificar a proporção de usuários do Strava frente à contagem de ciclistas realizada pela BH em Ciclo na orla da Pampulha. A premissa adotada de que todo usuário do Strava na orla seria um ciclista em treinamento, ainda que improvável, foi usada para se ter uma referência do percentual MÁXIMO de atletas a pedalar no local.

Mesmo superestimando o número de ciclistas em treino, verificou-se, que dentro do horário de contagem da BH em Ciclo, a proporção desse perfil de ciclista dificilmente passa de 20% do total. Já se for considerado todo o período de 24h do dia e mesmo sob a hipótese improvável de que somente ciclistas em treino pedalam antes das 07h e depois das 19h , percebe-se que ainda assim o percentual desse perfil de ciclistas dificilmente passa de um terço.

Portanto, é importante que todos reconheçam que a orla da Pampulha possui outras vocações para além do treinamento, o que pode ser agora comprovado pelos números deste estudo. Isso implica na conscientização de que a lagoa da Pampulha precisa de mais espaço para ciclovia e redutores de velocidade (radares, quebra-molas e travessias elevadas) voltados para os veículos automotores, a fim de dar mais segurança e conforto aos ciclistas.

Por fim, ainda que o número de possíveis atletas a pedalar na orla seja menor que os outros públicos, é importante ressaltar que constituem um número representativo e que possuem uma demanda legítima por espaço de treino. Neste sentido, seria interessante que a BHTrans avaliasse a possibilidade de adoção de mão única em alguns trechos da orla da Pampulha e a adoção de horários específicos para treino (com colocação de cones ou avisos).

 

Metodologia

Para saber a proporção de cada tipo de pedal em determinado local, o melhor seria indagar a cada um que passa, o tipo de atividade que está exercendo naquele momento. O problema é que, além de ser uma metodologia custosa, muitas pessoas podem não querer parar e responder, especialmente ciclistas em treino.

Outra alternativa é, na contagem de ciclista presencial, tentar estabelecer critérios visuais que possivelmente diferenciam o tipo de atividade que está sendo praticada. Ciclistas em treino costumam pedalar em pelotão e com tipo de roupas e bicicletas que podem ser diferenciadas. Ainda assim, é claro que essa metodologia pode estar sujeita a erros, pois quem se desloca de bicicleta para o trabalho ou para a faculdade pode perfeitamente utilizar uma bicicleta speed e se vestir como um atleta.

Assim, para tentar contribuir nessa empreitada de conhecer o tipo de usuário da bicicleta em determinado local, o uso do Strava Metro pode ser uma ferramenta a mais para agregar conhecimento sobre o tema. Com a adoção de algumas premissas, a comparação dos números do Strava com contagens automáticas ou presenciais pode dar pistas da representatividade das atividades exercidas no local, especialmente dos ciclistas em treino.

 

Sobre os dados da BH em Ciclo

Todo ano, a BH em Ciclo realiza contagens de ciclistas em diferentes pontos da cidade, no período de 07h às 19h em um dia de semana. Na orla da Pampulha, a contagem é feita na rotatória do encontro da Av. Otacílio Negrão de Lima com a Av. Heráclito Mourão, contabilizando todos os ciclistas que passam na rua ou na ciclovia, em direção ao Zoológico, ao Mineirão ou à Av. Heráclito Mourão.

Portanto, no caso dos números da BH em Ciclo consideraram-se todos os ciclistas que passaram pela ciclovia ou pela pista de rolamento no sentido Zoológico ou Mineirão. Aqueles que foram em direção à Av. Heráclito Mourão não foram considerados, pois ficava muito difícil comparar esse trajeto com os números do Strava e geralmente os atletas em treino fazem a volta na lagoa.

 

Sobre os dados do Strava Metro
  • Os dados do Strava podem ser disponibilizados por viagens ou ciclistas. Por exemplo, caso um ciclista dê duas voltas na lagoa da Pampulha, tem-se duas viagens registradas no trecho e apenas um ciclista. Assim, como a BH em Ciclo contabiliza o número de passagens de ciclistas, para realizar a comparação, mais apropriado se faz utilizar os dados de viagem do Strava.
  • Os dados do Strava podem ser disponibilizados por período anual, mensal, diário ou por hora. Neste sentido, com os dados separados por hora foi possível realizar a comparação com o período de contagem realizado pela BH em Ciclo.
  • O Strava realiza a diferenciação de atividades de lazer e deslocamento através de algoritmo próprio, sendo que no caso da Pampulha as atividades de lazer predominam. Portanto, é possível separar atividades de lazer das de deslocamento e o estudo considerou somente as atividades de lazer, mas não faria muita diferença no resultado adicionar as atividades de deslocamento.
  • O trecho escolhido para a comparação com os dados da BH em Ciclo foi logo após a rotatória que dá acesso à avenida Heráclito Mourão.

 

Premissas adotadas
  • Em conversas com ciclistas esportivos que treinam na lagoa, foi relatado que a quase totalidade deles faz uso do aplicativo Strava para registrar suas atividades. Desta forma, esta informação é o pilar para a consecução deste estudo e para as conclusões realizadas.
  • Também foi relatado e observado que a grande maioria dos ciclistas em treino pedala no sentido horário da orla da Pampulha e na pista de rolamento dos carros. Por isso, consideraram-se somente os registros de atividades no sentido horário, mas não faria grande diferença nos resultados, se fossem considerados ambos os sentidos.
  • Desta forma, para se conhecer o número de atividades de ciclistas em treino, verificaram-se os números do Strava para atividades de lazer (portanto, excluindo deslocamentos) realizadas na pista de rolamento e no sentido horário do mesmo local em que a BH em Ciclo realiza a contagem de ciclistas.
  • Nota-se que esta premissa superestima o número possível de atletas em treino, já que considera todo usuário do Strava na orla da Pampulha como possivelmente exercendo atividades de treino. Apesar de isso não corresponder à realidade, já que os usuários do Strava são um público muito diverso, a proposta metodológica é válida, pois fornece uma estimativa razoável da representatividade MÁXIMA dos atletas na orla da Pampulha.

 

_________________________

 

Sobre este artigo:

 

 

.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *