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Bicicletas e automóveis: guerra ou convívio pacífico?

Ainda me lembro da sensação de desconcerto e angústia, ao olhar para aquela bicicleta estacionada dentro de uma pequena arrecadação encafuada de coisas no pequeno R/C que fui habitar temporariamente, acabado de chegar à Holanda (leia-se Países Baixos, como agora o governo holandês deseja). Parte da ambição de mudar de país era necessariamente ter a possibilidade de entrar noutra cultura, viver uma vida diferente. E, nessa perspetiva, não haverá nada mais holandês do que a bicicleta. Como se diz na Holanda, as crianças já nascem a pedalar. Tendo crescido em Lisboa, a bicicleta era apenas um meio de divertimento que, com alguma dificuldade, aprendi a usar nos tempos livres de juventude. Fiquei capaz de andar de bicicleta; mas andar de bicicleta é uma coisa, outra é utilizar estes veículos como meio de transporte diário.

Lembro-me de escolher na minha cabeça o caminho que iria percorrer, e a que horas, para me deslocar para a Faculdade. O objetivo era minimizar as mudanças de direção e as vias de maior fluxo. Como se isso fosse possível. Era nesses momentos de entrada numa pista ciclável de maior tráfego que a angústia aumentava. Sem semáforos estas entradas fazem-se de forma orgânica e auto-organizada, como formigas em carreiros convergentes. Mas é preciso que as formigas saibam o que estão a fazer. Intuitivamente parava e olhava para a esquerda, depois para a direita, como se da condução de um automóvel se tratasse. Entretanto já 5 ou 6 ciclistas teriam passado por mim fazendo de forma automática o que eu tanto desejava, procurando os interstícios na corrente mais forte. Esta observação fi-la eu várias vezes naquelas primeiras semanas. Mas sempre consciente de que mais tarde seria também eu a passar algum iniciado ou iniciada, amaldiçoando os amadores que teimam em bloquear o caminho. Escusado será dizer que hoje pedalo por essas ruas como um nativo, arriscando até levar o guarda-chuva na mão direita.

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