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A prepotência das carreatas e motociatas

Por Felipe Alves

Com a proximidade do segundo turno das eleições, e as campanhas se intensificando cada vez mais, o número de eventos nas ruas das cidades do país é enorme, e é seguro dizer que em poucas datas temos tantas pessoas nas ruas. Aproveito estes atos para fazer uma análise, mesmo que rasa, das características dos eventos pelos modos de transporte/veículos utilizados. No último fim de semana, participei de dois eventos de campanha, uma pedalada e uma caminhada. Em ambos, percebe-se o altíssimo nível de interação entre os participantes.

Tanto na bicicleta quanto a pé é fácil conversar com quem está próximo, cantar junto, e até interagir com as demais pessoas no caminho. Durante o percurso, não é consumido nenhum combustível além da própria energia das pessoas não é exalado nenhum gás nocivo à atmosfera, e nenhum veículo emite poluição sonora acima do aceitável. As pessoas também se sentem seguras no trajeto e no entorno, porque além de um lugar cheio de gente passar uma sensação de segurança, não tinha nenhum veículo que pudesse ser utilizado como arma.

Como defensor da mobilidade sustentável, obviamente não gosto, e portanto não participo de carreatas ou motociatas, mas tive o desprazer de presenciar algumas passando na rua. É bem comum os condutores acelerarem em ponto morto para fazer mais barulho (além de queimar mais gasolina), muitas vezes com escapamentos furados ou outro problema nos silenciadores, o que torna o som ainda mais irritante. Buzinas também são utilizadas em profusão, mesmo próximo a hospitais, importunando quem precisa de descanso.

“Paredões de som”, mesmo proibidos, sempre marcam presença. Não existe qualquer interação amigável entre quem passa nos veículos e quem está em volta, seja por causa do estardalhaço sonoro, ou pelo simples motivo de que é difícil interagir com rostos que não vemos, dentro dos capacetes ou dos vidros dos carros. A quantidade de combustível queimada é enorme, assim como a poluição atmosférica e sonora. Ninguém se sente seguro muito próximo do trajeto, pois conhecemos o possível poder destrutivo de veículos motorizados. O clima costuma ser de coação, de demonstração de poder, de tentar impor sua escolha pela força.

Tem muita coisa precisando melhorar no país, cada qual com sua importância, mas seria um avanço não presenciar mais estes tipos de manifestações.

 

Felipe Alves é engenheiro civil e atua com mobilidade urbana sustentável. Ex diretor da UCB – União de Ciclistas do Brasil, é coordenador do GT Infraestrutura da UCB e do projeto Ciclomapa (UCB e ITDP).

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Artigo de Opinião enviado pelo autor para publicação no Observatório da Bicicleta, publicado originalmente em Opinião Direto ao Ponto.

 

 

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