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A falsa polêmica da readequação das velocidades nas vias

Por Felipe Alves

Quem estuda ou analisa segurança viária, assim como quem é ativista por um trânsito mais seguro, sabe que Fortaleza vem apresentando há vários anos uma redução consistente no número de mortes no trânsito, e foi uma das únicas cidades do mundo a atingir a meta de reduzir as mortes em mais de 50% na década passada. Esta redução é causada por diversos fatores, como mais espaços seguros para pedestres e ciclistas e, principalmente, pelo que talvez seja o mais importante deles, mas que ainda é considerado polêmico ou impopular: a readequação das velocidades nas vias. Sim, a palavra mais correta seria readequação, e não redução.

Para frisar que não estão retirando supostas liberdades ou direitos de motoristas e motociclistas, mas apenas tornando as vias mais adequadas para o uso seguro por qualquer pessoa.

Na semana passada, a AMC divulgou o resultado de mais um levantamento feito em 16 vias da cidade onde o limite de velocidade foi alterado de 60 para 50 km/h, há pelo menos um ano. Não é difícil ver nas redes sociais pessoas reclamando dessa medida, e argumentando com escasso conhecimento do assunto que essa diminuição de 10 km/h não faz diferença nenhuma em casos de atropelamentos ou colisões. A verdade é que faz pouquíssima diferença nas velocidades médias dentro da cidade, mas aumenta em até 10 vezes a chance de sobrevivência de alguém atropelado, segundo pesquisas científicas. Portanto, digo que o resultado do levantamento é muito positivo, mas não surpreende: estas vias tiveram 68,1% menos mortes comparadas com outras que não tiveram a mesma intervenção.

O número é bem próximo do levantamento anterior feito entre 2018 e 2021, que mostrou redução de 64,5% das mortes em outras vias que também tiveram velocidade readequada. É muito satisfatório ter estes dados para mostrar a efetividade das ações, e derrubar a argumentação “terraplanista” de que existe uma indústria da multa, e que o limite de 50 km/h é mais difícil de seguir no velocímetro. Minha torcida é para que este tipo de discussão desonesta seja esquecida nos próximos anos, junto com tantas outras que assombraram o país recentemente.

 

Felipe Alves é engenheiro civil e atua com mobilidade urbana sustentável. Ex diretor da UCB – União de Ciclistas do Brasil, é coordenador do GT Infraestrutura da UCB e do projeto Ciclomapa (UCB e ITDP).

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Artigo de Opinião enviado pelo autor para publicação no Observatório da Bicicleta, publicado originalmente em Opinião Direto ao Ponto.

 

 

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