Por Cristiano Scarpelli

No mês de maio de 2021, Belo Horizonte recebeu suas duas primeiras infraestruturas cicloviárias em viadutos, as quais, tudo indica, influenciaram positivamente mais gente a pedalar nos locais. A primeira a ser concluída foi uma ciclovia no viaduto da Via-710, via que liga a Andradas ao Minas Shopping, inaugurada no dia 08/05/21. A outra estrutura é uma ciclofaixa no viaduto José Maria Torres Leal, que liga a Andradas ao Santa Tereza e ficou pronta no dia 11/05/21.

A partir dos dados do Strava Metro foi possível fazer uma análise dos prováveis impactos dessas obras no fluxo de ciclistas, mais precisamente, no número de viagens registradas no aplicativo Strava.

O gráfico a seguir ilustra esses dados por bimestre, em toda a cidade e nas duas vias entre jan/2019 e out/2021. Para facilitar a comparação entre os 3 locais, o gráfico tomou como índice-base 1, o primeiro bimestre de 2019.

Assim, o gráfico destaca três marcos importantes que influenciaram no número de viagens em pelo menos um ou mais locais:

1. O início da pandemia fez com que o  número de viagens quase dobrasse em toda a cidade e quadruplicasse nos dois viadutos;
2. Em 20 de janeiro de 2021, um trecho do viaduto da Via-710 foi fechado para os carros, permitindo aos ciclistas transitar com maior tranquilidade, ainda que a ciclovia não estivesse concluída. Daí em diante, o número de viagens neste viaduto aumentou em mais de 50% em relação ao primeiro ano da pandemia e atingiu 5,7 vezes mais viagens do que em relação ao início de 2019;
3. Finalmente, no mês de maio foram concluídas as duas estruturas cicloviárias nos viadutos. No que dá acesso ao bairro Santa Tereza, após a inauguração, a média mensal quase dobrou de abril para maio, representando mais de 5,4 vezes o desempenho de 2019. Já no viaduto da Via-710 tem-se um novo aumento, em que o número de viagens alcança quase 7 vezes mais que o seu desempenho tradicional pré-pandemia. Importante notar, que tudo isso ocorreu, enquanto o número de viagens no resto da cidade decrescia ligeiramente. 

Assim, comparando-se a média mensal de maio a novembro de 2020 com o mesmo período em 2021, em que as estruturas cicloviárias já estavam prontas, tem-se os seguintes resultados de crescimento:

Portanto, é fácil perceber que o desempenho mensal médio em ambos viadutos foi bem maior do que o ligeiro aumento de 8%, observado no resto da cidade. No viaduto da Via-710, o aumento foi de impressionantes 70% e no viaduto que dá acesso ao bairro Santa Tereza, o aumento ficou em 44%. Aumentos estes comparados com um período que já vinha de importante crescimento em relação a 2019, vale destacar.

Esses números reforçam a tese, sempre repetida por especialistas, de que para mais gente pedalar, é preciso antes oferecer condições de segurança e uma malha cicloviária adequada. Assim como ninguém espera os carros atravessarem por dentro rio, para depois construírem pontes ou os céus encherem de avião, para depois construírem aeroportos, estruturas cicloviárias seguem a mesma lógica e não devem esperar as ruas encherem de ciclistas, para só depois serem construídas.

Por fim, é importante parabenizar a empresa Strava por disponibilizar essa ferramenta, a qual agora permite que ciclistas e pesquisadores melhor acompanhem as políticas públicas. Ademais, quem sabe com estes dados, algumas prefeituras não tomem consciência e passem a encarar a bicicleta com mais atenção? Belo Horizonte é uma que está precisando!

__________________________

Sobre este artigo:

• Este artigo foi produzido por Cristiano Scarpelli no âmbito do Projeto Análise de Dados do Strava Metro da UCB – União de Ciclistas do Brasil e publicado originalmente em 03/01/2022 em https://observatoriodabicicleta.org.br/viadutos-bh-strava-metro/ 
• Cristiano Scarpelli é ciclista e criador do canal Ciclo Rota BH
• Este artigo inclui dados agregados e não identificados do Strava Metro e está de acordo com os Termos de Uso do mesmo.
• Este artigo pode ser reproduzido e publicado em outros sítios da internet, desde que citado o Observatório da Bicicleta e sua URL como fonte, e sem nenhuma modificação no seu conteúdo.
• Assista o vídeo sobre este estudo em https://youtu.be/4xscWpcrpUM

 

.