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Qual o impacto dos grupos de pedal noturnos no contador de ciclistas de Belo Horizonte?

Por Cristiano Scarpelli.

Em conversas sobre os números do contador de ciclistas de Belo Horizonte, instalado na Av. Bernardo Monteiro, uma questão recorrente, diz respeito à provável alta representatividade dos grupos de pedais noturno frente aos números totais divulgados.

Quando ocorrem variações relevantes nos números do contador, é comum aparecerem explicações de que a mudança esteja a ocorrer por um ou mais grupos de pedal noturno terem deixado de passar no local.

Por isso, desenvolvi uma metodologia para aferir a provável representatividade dos grupos de pedais noturno frente aos números do contador da Av. Bernardo Monteiro registrados no Site Eco Counter. Para atingir esse objetivo, utilizei o programa R e compartilho com vocês a base de dados e os comandos utilizados.

Vale ressaltar que os resultados encontrados não pretendem estimar a representatividade dos grupos de pedais noturnos frente ao universo de ciclistas da cidade, mas somente verificar a possível representatividade naquele ponto da Av. Bernardo Monteiro.

 

METODOLOGIA

Para estimar a possível representatividade desses grupos de pedais baixei os dados do contador do Site Eco Counter. O período selecionado foram os anos de 2018 e 2019, pois nos anos seguintes, além da pandemia, os dados não foram mais transmitidos com regularidade, pois a BHTrans não mais pagou a empresa responsável pela transmissão.

No estudo considerei como grupo de pedal noturno apenas aqueles formados por 15 ou mais pessoas no intervalo das 19h às 03h da madrugada. Assim, verifiquei quantas vezes passaram no contador 15 ou mais ciclistas no intervalo de 15 minutos. Portanto, essa seria a representatividade máxima de grupos de pedal noturno em relação aos números do contador.[1]

Entretanto, é claro que em um intervalo de 15 minutos costuma passar outros ciclistas que não fazem parte de grupos de pedal noturno. Por isso, verifiquei o número de ciclistas que costuma passar em 25%, 50% e 75% das vezes em cada intervalo de 15 minutos. Na estatística, esses percentuais são chamados de percentis. Em seguida, verifiquei quais foram as situações em que passaram 15 ciclistas a mais do que o usualmente visto em 25%, 50% e 75% das vezes.

Por exemplo, no horário das 20:00, em 50% das vezes passaram até 5 ciclistas. Nesse sentido, é possível pensar que grupos noturnos poderiam ter passado nesse horário apenas quando tivéssemos 20 ou mais registros (5 da mediana + 15 de grupos noturnos).

Portanto, para verificar a representatividade de grupos noturnos, estabeleci 4 possíveis critérios de identificação desses grupos:

  1. Registros no contador maior ou igual a 15: Esse seria o limite máximo da estimativa de grupos noturnos, pois considera que todos os registros maiores ou iguais a 15 realizados no intervalo de 15 minutos seriam de participantes de grupos noturnos. Portanto, não é possível que a representatividade de grupos noturnos seja maior do que esse critério;
  2. Registros 15 unidades acima do percentil 25%: Considera somente como grupo noturno, os registros que estejam 15 unidades acima ou igual ao percentil 25%;
  3. Registros 15 unidades acima do percentil 50% (mediana constante no gráfico): Considera somente como grupo noturno, os registros que estejam 15 unidades acima ou igual ao percentil 50%;
  4. Registros 15 unidades acima do percentil 75%: Considera somente como grupo noturno, os registros que estejam 15 unidades acima ou igual ao percentil 75%.

Em seguida, verifiquei a razão dos números encontrados para os 4 critérios estabelecidos sobre 3 universos de ciclistas identificados através do contador.

  • O total de ciclistas registrado em 2018 e 2019;
  • O total de ciclistas registrados apenas em dias úteis em 2018 e 2019;
  • O total de ciclistas registrado apenas no período noturno de dias úteis em 2018 e 2019.

 

RESULTADOS

A tabela abaixo traz os resultados das comparações propostas:


Fonte: Eco Counter. Elaboração própria

 

Frente aos números totais registrados no contador durante os anos de 2018 e 2019, a provável representatividade dos grupos de pedal noturno seria de algo entre 2,3% e 3,6%, não podendo ser maior do que 3,6%.

Mais provável que esse percentual fique em torno dos 2,4%, pois esse percentual é o da mediana + 15 ciclistas. A mediana é uma boa base de referência e o gráfico a seguir ajuda a entender o porquê.

 


Fonte: Eco Counter. Elaboração própria

 

As pequenas barras azuis, representam todas as medianas de cada faixa de horário e os pontinhos vermelhos representam todas as situações em que foram registradas 15 passagens a mais que a mediana durante os anos de 2018 e 2019. A área hachurada representa o período noturno definido entre as 19h e 03h da madrugada.

Interessante notar que a maioria dos pontinhos vermelhos se encontra dentro da área hachurada. Para ser mais preciso, 85,5% dos pontos estão nessa área definida como do período noturno, o que indica que o critério escolhido possa estar adequado.

As barras azuis demonstram que há pouca variação na mediana de ciclistas que passam por faixa de horário. De madrugada e depois das 23h a mediana é zero e por isso a barra azul nem aparece no gráfico. Já nos horários de pico, a mediana chega no máximo a 9 ciclistas (às 18:15min).

Essa baixa variabilidade, a qual também ocorre nos percentis 25% e 75%, demonstram que não é comum ocorrerem grandes variações na passagem de ciclistas. Ou seja, quando ocorrem, é possível pensar que grupos noturnos tenham passado no local.

 

CONCLUSÃO

Esses percentuais indicam que as explicações para queda ou aumento dos números totais do contador pautadas na variável grupos de pedais noturno possuem baixo poder de explicação. Por exemplo, para o período analisado, uma queda de 50% nos grupos de pedais noturnos levaria a uma queda no número total do contador de apenas algo em torno de 1,2%.

Os grupos de pedais noturnos só se tornam mais representativos quando comparados com os números dos registros noturnos em dias úteis, situação em que sua representatividade pode variar de 11,6% a um máximo de 18,5%.

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[1] Se os grupos de pedais noturnos passarem em horários aleatórios no contador, as chances de passarem exatamente no intervalo de transição dos 15 minutos é baixa. Por exemplo, se um grupo de 15 ciclistas levar 30 segundos para que todos passem no contador, as chances de que passem durante o intervalo é de algo em torno de 3%. Portanto, essa possiblidade não foi levada em conta nas estimativas.

 

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