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Entregadores do iFood protestam contra aumento da taxa de uso de bicicletas no RS

Entregadores com bicicleta realizaram, na manhã desta segunda-feira (8), uma manifestação em frente ao Ponto de Apoio iFood Pedal, no Centro Histórico de Porto Alegre. Os trabalhadores protestaram contra o aumento da taxa cobrada pelo serviço e a degradação do espaço e das bicicletas de trabalho. O ato chegou a bloquear a Avenida Borges de Medeiros.

Dirigentes da CUT-RS levaram apoio e solidariedade aos entregadores, que pedalaram até a Assembleia Legislativa, onde o grupo foi recebido pelo superintendente-geral da Casa, Genil Pavan.

Mais de 100 trabalhadores utilizam o ponto de apoio que não oferece nenhuma estrutura para os trabalhadores que acabam descansando deitados no chão, enquanto carregam o celular. Os manifestantes alegam que existe uma grande rotatividade entre os entregadores, que desanimam com a precariedade do trabalho, o que dificulta a organização e beneficia a empresa.

Além disso, os entregadores relataram que já houve a entrega de uma série de demandas para a gerência. “O sistema iFood é uma empresa cujo proprietário é um dos bilionários do Brasil e virou uma franquia. Esses locais, como o ponto de apoio, são terceirizados. Existe uma centralização de procedimento e de padrão. As demandas foram enviadas para São Paulo e aguardam resposta”, afirmou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.

Exploração dos trabalhadores vulnerabilizados

Para o dirigente sindical, é evidente que a situação dos entregadores de alimentos, no caso do Ifood, “é um grande sistema de exploração dos trabalhadores vulnerabilizados”. Ele criticou o fato de não terem um lugar para tomar água e descansar, enquanto trabalham pedalando bicicleta e entregando refeições.

“Chegou ao cúmulo que a empresa altera unilateralmente o valor do contrato mensal que esses trabalhadores pagam para utilizar os equipamentos do Ifood. Eles também reclamam que não receberam equipamentos para se proteger da chuva e do frio. Eles estão suportando tudo isso com recursos próprios, o que está impossibilitando a própria sobrevivência”, denunciou.

Segundo Amarildo, a CUT-RS está nesta luta por direitos. “Estamos integralmente comprometidos com a luta e o apoio a esses trabalhadores e vamos seguir juntos para que essa situação seja resolvida ou mitigada, e eles consigam recuperar a dignidade no trabalho”, ressaltou.

Aumento de 300% da taxa do ponto de apoio

Entregador há dois anos e meio, Talisson Vieira foi um dos organizadores do ato. Segundo ele, a luta é por valorização da categoria que faz a cidade se mover com a entrega de alimentos.

Ele contou que, desde a semana passada, começaram rumores sobre o aumento da taxa do ponto de apoio, através de pesquisas de preços. Ao chegarem hoje para retirar as bicicletas, a surpresa: um aumento que no final do mês chega a 300%.

“A gente pagava cerca de R$ 50,00 ou R$ 60,00 por mês, ao todo, para usar as bicicletas elétricas do iFood e o espaço do ponto de apoio. Hoje simplesmente passou para R$ 28,00 por semana, mais R$ 2,00 por retirada, que é um preço absurdo. No final do mês, se tu folgar um dia por semana, dará R$ 230,00. Assim, o que antes era R$ 50,00 passou pra R$ 230,00”, salientou.

Outro fator de descontentamento é a degradação do ponto de apoio. “No início, quando veio a iFood Pedal para Porto Alegre, tinha puff para deitar, cadeira à vontade, micro-ondas. Hoje a gente tem dois puffs, porque foram rasgando e simplesmente retiraram. São 100 entregadores, daí o pessoal tem que descansar no chão, no piso frio, além da falta de manutenção das bicicletas, o que já levou a acidentes”, afirmou.

Ainda segundo Talisson, os entregadores poderiam até aceitar o aumento da taxa para uso das bicicletas e do espaço. “Desde que melhorasse a qualidade do local e das bicicletas elétricas”, apontou. Ele também relatou que entregadores estão sendo ameaçados por funcionários do local e situações de priorização de algumas pessoas, o que acabou gerando intrigas entre os trabalhadores.

Início de uma organização dos entregadores

O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, também acompanhou o protesto. “Os entregadores estão numa caminhada que já tem alguns anos. Eles não têm nada. Estão tentando uma caminhada mais coletiva, enfrentando muitos problemas. Nós fomo informados do ato de hoje e nos integramos. Oferecemos uma opção, que foi fazer uma passeata até a Assembleia Legislativa e tentar construir uma parceria, colocar o problema deles para fora, porque ninguém conhece a realidade deles”, falou.

Ele comentou que os entregadores “se arrebentam na pressão do dia a dia e o local deles de descanso é muito precário. A empresa não oferece nenhuma condição. Além de só tirar. E também há uma situação de não ter conhecimento da regra do jogo. Eles não têm diálogo sobre as situações que acontecem no dia a dia, as punições, porque não tem nenhuma transparência”.

Mestrando em Ciência Política, Leonardo Rodrigues Limeira estuda a questão dos entregadores de aplicativo e apoiou a manifestação. Presente no ato, ele frisou que os gerentes do local estavam diante do estabelecimento rindo dos trabalhadores “até o momento que a CUT chegou, daí eles se mandaram pra dentro”, observou.

Segundo ele, os trabalhadores disseram que a questão da taxa foi o estopim de uma situação de desvalorização que já vem há muito tempo. “Os valores pagos são muito baixos e existem coisas como as entregas duplas, que o entregador recebe centavos a mais para fazer outra entrega num local próximo. Além das péssimas condições, bikes sem manutenção, pneus carecas, freios que não funcionam, bancos soltos, sem retrovisores, sem iluminação para circular à noite”, exemplificou.

Para Leonardo, o ato já tem um saldo positivo na questão organizativa. “Muitos participaram pela primeira vez de uma manifestação, muitos se prontificaram a continuar a organizar a categoria e se estabeleceu um diálogo entre a CUT e esses trabalhadores. Além do encaminhamento com a Assembleia Legislativa.”

Na avaliação da Talisson, a presença da CUT-RS foi muito positiva para dar força à luta. “A gente não tem um sindicato, por exemplo como os motoristas da Uber. Mas iFood, 99, Rappi, a gente não tem. As condições de trabalho são muito difíceis, a gente trabalha muito e ganha pouco, e ainda faz propaganda para as empresas nas bags e camisetas.”

Ele contou ainda que, logo depois da manifestação, os entregadores que participaram foram bloqueados e não podem mais acessar as bicicletas do ponto de apoio.

 

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Fonte: CUT

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