Europa aposta na bicicleta na vida pós-quarentena para evitar aglomeração nos transportes públicos

Tipo de publicação

Artigo

Curso ou área do conhecimento

Mobilidade urbana

Veículo

G1 BEM ESTAR

Tipo de autoria

Pessoa Física

Nome do autor

Letícia Fonseca-Sourander

Língua

Português

Abrangência geográfica

Internacional/Mundial

Ano da publicação

2020

Palavra chave 1

Coronavírus

Palavra chave 2

Pandemia

Palavra chave 3

Planejamento Urbano

Palavra chave 4

Políticas Públicas

Descrição

Europa aposta na bicicleta na vida pós-quarentena para evitar aglomeração nos transportes públicos
Uma das tendências do retorno à vida pós-confinamento é a bicicleta como meio de transporte, principalmente por permitir o distanciamento social. Além disso, o pedal prioriza uma alternativa sustentável de mobilidade às cidades europeias.
TOPO
Por Letícia Fonseca-Sourander, RFI — Bruxelas

06/05/2020 14h08 Atualizado há um ano

Mulher usa máscara contra o novo coronavírus enquanto anda de bicicleta em Milão, no norte da Itália, nesta quarta (4). — Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters
Mulher usa máscara contra o novo coronavírus enquanto anda de bicicleta em Milão, no norte da Itália, nesta quarta (4). — Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters

Como se deslocar em tempos de coronavírus? Com o fim da quarentena em vários países europeus, a mobilidade das pessoas se tornou um dos maiores desafios. Para evitar a aglomeração nos transportes públicos e priorizar alternativas mais sustentáveis, governos estão apostando na força dos pedais.

Uma das tendências do retorno à vida pós-confinamento é a bicicleta como meio de transporte, principalmente porque permite o distanciamento social.

Muitas pessoas estão com medo de usar os transportes públicos quando a volta ao trabalho for inevitável. Poucas cidades na Europa têm condições de suportar mais engarrafamentos em um cenário pós-pandemia.

Além do mais, pesquisadores da Universidade de Harvard estabeleceram a primeira ligação entre ar poluído e o novo coronavírus. Segundo o estudo, pacientes de áreas muito poluídas antes da pandemia que contraíram a Covid-19 têm mais probabilidade de morrer do que as pessoas infectadas que moram onde o ar é mais limpo.

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Então, nesta equação a bicicleta ganha do carro. E com isso, as principais cidades europeias estão aproveitando a crise do coronavírus para repensar a mobilidade urbana.

Ações concretas
Antes da crise do coronavírus, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, havia prometido que cada rua da cidade teria uma faixa para ciclistas até 2024. Com a chegada da pandemia, os políticos foram forçados a repensar mudanças rápidas e eficazes no sistema de mobilidade.

O medo do contágio nos transportes públicos fez a prefeitura liberar € 22 milhões para a criação de ciclovias temporárias. A partir de 11 de maio, a primeira fase de abertura da quarentena na França, os parisienses vão poder usufruir de 650 quilômetros de ciclovias pela cidade.

Em Bruxelas, a bicicleta também está sendo incentivada como alternativa ao metrô, ônibus e bondes. Desde o início da semana, 40 quilômetros de faixas para carros e estacionamentos foram transformadas em novas ciclovias nas principais vias da capital belga. Iniciativas semelhantes estão sendo criadas em Barcelona e Milão. Na Alemanha, o país dos automóveis, pedalar é um verbo cada vez mais conjugado em cidades como Berlim.

O futuro sobre duas rodas
Em um mundo pós-pandemia, o transporte coletivo vai precisar de mais tempo para encontrar uma solução segura para os passageiros. Neste momento, quando as ruas estão vazias, os governos estão tendo a oportunidade ideal para repensar mudanças no espaço público. Talvez as ciclovias temporárias possam se tornar permanentes.

Em um futuro mais sustentável, as calçadas e zonas de pedestres poderiam ser ampliadas e os centros de algumas cidades seriam desmotorizados, como em Oslo, capital da Noruega. ”Da mesma forma que já é normal não fumar em ambientes fechados, em alguns anos, o uso desnecessário do carro será uma relíquia do passado”, comenta o governo norueguês.

“Paraíso dos ciclistas”
A Holanda tem 17 milhões de habitantes e 23 milhões de bicicletas. Um número que só comprova uma das tradições mais enraizadas do país desde o início do século XX. Até mesmo no pós-guerra, entre os anos 1950 e 1960, quando o carro era a promessa do futuro, ainda assim 20% da circulação era de ciclistas.

Mas como o país se tornou um exemplo de mobilidade urbana? Foram os protestos contra o alto número de mortes causadas por acidentes de trânsito o estopim para a mudança. Era início dos anos 1970, onde ativismo e desobediência civil estavam em ascensão. Na época, cerca de 3.300 pessoas das quais 400 crianças perderam a vida nas ruas das cidades holandesas.

Além disso, a crise do petróleo que quadruplicou o preço do produto fez as pessoas adotarem um novo estilo de vida para economizar energia. Aos poucos, os políticos começaram a entender a importância de investir em infraestrutura, educação e legislação para priorizar a bicicleta.

Hoje, a Holanda tem 35 mil quilômetros de ciclovias. Em Amsterdã, quase 65% dos habitantes pedalam todos os dias, o que não deixa de ser uma explicação para a fama de “paraíso dos ciclistas” que o país ganhou.

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