Como as mulheres de São Paulo usam a cidade? Uma análise a partir da mobilidade por bicicleta

Tipo de publicação

Artigo

Curso ou área do conhecimento

Arquitetura

Veículo

REVISTA DE ARQUITECTURA DE LA UNIVERSIDAD DE LOS ANDES

Tipo de autoria

Pessoa Física

Nome do autor

Marina Kohler Harkot, Letícia Lindenberg Lemos, Paula Freire Santoro

Língua

Português

Abrangência geográfica

Municipal

País

Brasil

Estado

São Paulo

Município

São Paulo

Ano da publicação

2018

Palavra chave 1

Feminismo

Palavra chave 2

Gênero

Palavra chave 3

Mobilidade por bicicleta

Descrição

Os padrões de mobilidade urbana masculinos e femininos são muito diferentes: mulheres são o
maior grupo a andar de transporte público e a caminhar, mas correspondem a apenas 12% dos
ciclistas em São Paulo, Brasil. Para compreender essas diferenças, estudos em mobilidade urbana
têm diferenciado seus resultados segundo o gênero inclusive em relação ao uso de bicicleta. Este
artigo analisa resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas, e relaciona os padrões de uso
da bicicleta por mulheres ligados a questões culturais, especialmente ao uso e circulação femininos
em espaços públicos, e à relação histórica entre a domesticidade e o trabalho reprodutivo.
Palavras chave: mobilidade urbana, bicicleta, modos ativos, São Paulo, gênero, mulheres, mobilidade
por bicicleta

O planejamento e os estudos urbanos adotaram
historicamente abordagens totalizadoras e desenvolveram
planos e diagnósticos que buscam
dar conta do “interesse geral” de determinada
comunidade.1 Resultado direto disso é a invisibilidade
das mulheres no campo do planejamento
urbano: não apenas como planejadoras, mas
também como cidadãs para as quais as cidades
também são planejadas — ou um dos grupos para
quem as cidades também deveriam ser planejadas.
Apesar de existirem alguns estudos nessa
área desde os anos 1970, ainda é lenta a incorporação
de enfoques específicos sobre gênero em
pesquisas urbanas. Como consequência, tem-se
a dificuldade de identificação de diferenças e
especificidades nas maneiras como as mulheres
utilizam o espaço urbano, bem como a falta de
enfoques metodológicos que joguem luz sobre
grupos sociais historicamente subrepresentados,
tal como as mulheres.
O uso diferenciado da cidade encontra sua raiz histórica
no conceito de gênero,2 que enfoca as relações
sociais, os papéis sociais e os comportamentos
designados a partir do sexo aos quais foram
atribuídos os rótulos “masculino” e “feminino”, e
a partir dos quais a sociedade se constituiu. Este
trabalho considera como a construção social e cultural
dos gêneros determina aspectos da socialização
feminina estereotípica e da divisão sexual do
trabalho, cujo resultado direto é a vivência diferente
de mulheres e homens no espaço urbano.
O uso diferenciado também se expressa na maneira
como circulam e se locomovem,3 estudada
a partir das diferenças, tais como motivo e distância
das viagens, modo de transporte4 e a tendência
de realizar mais viagens em cadeia, e dentro
dos bairros, do que viagens pendulares centro-
-periferia.5 Hanson6 avançou metodologicamente
ao mostrar como os “padrões de mobilidade”7
conformam gênero e vice-versa. Para ela, as distâncias
que as mulheres perfazem na cidade e seu espaço de mobilidade, por exemplo, têm relação
com a ideologia do “dualismo familiar” — com a
mulher mais restrita à casa e com movimentos
menores versus as atividades desenvolvidas pelos
homens mais frequentemente fora de casa,
no espaço público, e com movimentos muito
mais expansivos. Dessa forma, quando a mulher
aumenta seu raio de deslocamento e ganha mobilidade,
isso tem poder de transformar a subjetividade
contida na identidade masculina e feminina,
ainda que a autora ressalte a importância de
se considerar também o que essa ampliação significa
em cada contexto. Trabalhos atuais relativizam
essas análises ao considerar que as mulheres
estão mais presentes fora de casa, no mercado
de trabalho. E apontam que os estudos mais disseminados
sobre gênero e mobilidade foram desenvolvidos
principalmente em países do Norte
Global,8 enfocando dinâmicas bastante diversas
do contexto latino-americano, no qual acessibilidade
e mobilidade são fortemente impactadas
por recortes de renda, escolaridade, cor e etnia,
aspectos culturais e morais, entre outras variáveis
que dificultam consideravelmente o diálogo
com a literatura europeia e norte-americana.
Nos últimos anos, estudos brasileiros começaram
a investigar aspectos da mobilidade urbana das
mulheres a partir de diferentes perspectivas. No
final do século XX, foi realizada a primeira constatação
da diferenciação dos padrões de mobilidade
entre homens e mulheres moradores de
São Paulo, com a Pesquisa Origem e Destino (OD)
do Metrô.9 Em estudo recente, Svab10 abordou
as variáveis que mais impactavam as diferenças.
Através de análises de clusters, identificou que a
categoria “mulheres” não é homogênea e que os
padrões de mobilidade são impactados por questões
além do gênero, como modo de viagem, situação
familiar, grau de instrução, faixa de renda
familiar, quantidade e idade dos filhos.
As especificidades do uso da bicicleta pelas mulheres
brasileiras estão sendo investigadas em
detalhe a partir de abordagens históricas11 ou
etnográficas,12 com enfoques na saúde,13 em pesquisas
quantitativas ou análises estatísticas de
dados secundários.14 Destaca-se a pesquisa de
Malatesta15 sobre a relação entre bicicleta e mobilidade
em São Paulo, que retrata a implantação
paulatina das infraestruturas na cidade.
Tendo em vista o histórico de pesquisas com
abordagens distintas, Lemos et al.16 exploram
os padrões da mobilidade por bicicleta em São
Paulo com base em dados quantitativos e qualitativos
secundários existentes e, a partir disso,
levantam algumas hipóteses baseadas no conhecimento
acumulado sobre a mobilidade das
mulheres. Aqui, apresentam-se as descobertas
e hipóteses trabalhadas, elencando uma agenda
de pesquisas sobre mobilidade ativa e gênero em
São Paulo.

Prezado usuário: em caso de problemas no acesso ou de incorreção nas informações desta publicação do Acervo ou em caso de sua exposição contrariar direitos autorais, favor entrar em contato com o Observatório da Bicicleta.