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Quanto vale a vida de uma ciclista?

Uma crônica de Fernanda Almeida.

É véspera de feriado de Corpus Christi. Acordo com feliz notícia: na madrugada, havia nascido Bernardo, o primeiro filho do meu irmão caçula. Uma alegria incomensurável para toda a nossa família. O bebê muito desejado chega ao mundo rodeado de amor e bons afetos. Como de costume, ainda na garagem, ajusto o capacete; a checagem simples e rotineira confirma que os freios da minha Bici estão em ordem. Noto que minha comiseração pela realidade do país produziu certo apego a um sentimento quase pueril de otimismo, ainda que tudo – absolutamente tudo – me prove o contrário.

Minutos antes de sair de casa eu havia escutado um podcast que problematizava o dado de que “o acesso a armas de fogo ficou ainda mais fácil para civis durante o governo de Jair Bolsonaro”. Tudo neste miserável Brasil dos tempos de Bolsonaro tem cheiro de morte.  Ainda assim, saio de casa cantarolando, afinal o nascimento do meu sobrinho é a prova de que a vida insiste e pulsa na direção contrária. É uma típica manhã de fim de outono, uma brisa gelada intimida os fracos raios de sol, o termômetro indica a sensação térmica de 10 graus.

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