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Ao final de 2026 poderemos ter 5.000 km de ciclovias nas capitais. Será?

Por Tonicato Miranda

A União de Ciclistas do Brasil – UCB publicou no Instagram, no dia 13 de abril de 2024, notícia de que a rede de ciclovias das capitais do Brasil aumentou sua rede em 4%, passando de 4.196 km (em 2022), para 4365 km (em 2023). Aumento de 169 km em um ano. Isto é expressivo? Em 2007, junto a 279 municípios dos mais expressivos entre usuários da bicicleta utilitária, havia 2.505 km, segundo pesquisa feita por mim para o Ministério das Cidades. Assim, acreditamos que para 5.568 municípios poderíamos ter não mais do que uma vez e meia este número em 2007. Assim, o feito do ano passado é sim significativo. No entanto, comparando ao que aumentou em termos de vias pavimentadas para o automóvel em nossas cidades, o avanço da rede cicloviária representa muito pouco.

E mais ainda, caso comparemos os 358 municípios dos Países Baixos (Holanda), e a rede cicloviária com mais de 35.000 km, segundo site do Euronews. verificaremos estarmos afastados da tendência cada vez maior das grandes nações mais desenvolvidas no mundo ocidental. Exemplos circulam para todos os lados quanto às restrições ao uso livre do automóvel nas grandes cidades, assim como Paris, Copenhagen, Berlim, Barcelona e Nova York. Cada vez mais espaço nessas cidades são dados aos ciclistas e aos pedestres.

No entanto, aqui no Brasil avançamos na motorização desenfreada, atingindo a quarta maior frota de automóveis na Terra. E isto é ruim? Claro que é. Por que desenvolver veículos com velocidades atingindo 260 km/h se não podemos circular em nossas ruas com mais de 60 km/h? E 120 km/h é a velocidade máxima permitida nas nossas rodovias. No Brasil não existem autoestradas. E aqui conto um fato observado por mim. Estava viajando num trem de Munique (Alemanha) para Utrecht (Países Baixos) e em determinado momento observei um veículo passando numa estrada paralela, com velocidade superior ao trem. Olhei no visor do vagão que mostra a velocidade imprimida pelo comboio e ele estava a 220 km/h. O automóvel, na autopista adjacente, estava passando o trem, indo à frente. Fiquei surpreso, também os colegas brasileiros que estavam voltando de um congresso.

Como pode um país tendo gente a não se preocupar com a frente da sua casa; se a calçada está suja, trafegável e segura para as crianças, para os velhos; se o jardim está bem cuidado. Como podem dedicar tanto “carinho” ao automóvel? Para muitas pessoas você encostar num veículo particular é capaz de ser agredido pelo proprietário. Muitos imóveis têm o carro debaixo das suas camas, quando a garagem está localizada debaixo do quarto onde dorme. Outras vezes, em casas mais humildes, o veículo rouba espaço onde poderia ser a ampliação da cozinha, ou mais um quarto para um filho. Não sei. Isto me parece uma insanidade do brasileiro, que não preza o caminhar, o pedalar, dedicando aos veículos motorizados cerca de 30% ou mais do território das cidades.

Sim. Sim UCB, este acréscimo da rede cicloviária representa uma vitória para o Brasil., mas não esqueçamos que o presidente queria há alguns anos garantir a todos os trabalhadores e brasileiros um “carrinho para ter como se transportar e para servir a família”. Também não esqueçamos que o mesmo presidente veio de um chão de fábrica da indústria automotiva, assim ele tem de valorizar “a companheirada”. Porém, estamos salvos por algum viés porque o seu ministro da economia, quando foi prefeito da maior cidade latino-americana, produziu obras, aumentando a infraestrutura cicloviária, elevando-a de cerca de 70 km para 450 km em apenas quatro anos. Portanto, ainda nada está perdido e há uma chance para que alguma possa acontecer e cheguemos ao final do mandato atual com uma infraestrutura nas capitais próxima de 5.000 km ou um pouco mais. Tal patamar poderia animar a luta da UCB e de muitos ciclistas, enriquecendo a qualidade das nossas cidades e da vida urbana.

 

Curitiba, 19/abril/2024.

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