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A evolução das bicicletas para mulheres

A bicicleta, desde o seu surgimento, sempre esteve associada à emancipação das mulheres. Pedalando, elas se livraram da obrigação dos grandes vestidos, ganharam a liberdade e seguiram em frente. Infelizmente, a paridade de gênero no transporte e no esporte em bicicleta ainda é um desafio a ser alcançado.

Mais de duzentos anos desde a invenção da bicicleta, as mulheres ainda são minoria nas ruas, ciclovias e pista de competição. Uma das soluções para popularizar as pedaladas femininas que a indústria encontrou foi com a personalização de modelos específicos para elas.

 

As origens da busca por geometria e conforto das bicicletas femininas

Até pouco tempo atrás, quadros de bicicleta com o tubo superior rebaixado eram caracterizados como “femininos”. A origem da associação é bastante óbvia, a facilidade de passar uma das pernas por cima do quadro facilita o uso de saias e vestidos para pedalar.

Atualmente, os quadros com o tubo superior rebaixado estão menos associados ao gênero de quem pedala e passaram a ser uma forma para descrever uma característica da bicicleta.

Em busca de atender os gostos e preferências femininas, as grandes marcas, a partir do começo do século XXI, passaram a investir na personalização e adaptação dos quadros de bicicleta. Além de tamanhos menores, as bicicletas femininas ganharam adaptações no comprimento do tubo superior, selins mais largos e guidões mais estreitos. Mas o principal diferenciador eram mesmo os grafismos, muitos temas florais e tons de rosa.

 

Evolução da ergonomia das bicicletas femininas

Líder do grupo de ciclistas amadoras Pedal das Minas, Renata Mesquita não gosta da cor rosa. Mas não foi só a escolha de tons que define a bicicleta que ela pedala. Renata acompanhou de perto a mudança que as marcas fizeram na segmentação de seus produtos para as mulheres.

A Specialized, marca da qual Renata já foi uma das embaixadoras, é um exemplo da tentativa de adaptação da indústria, em especial nos EUA, ao corpo e aos gostos das mulheres. Trek e Specialized foram pioneiras no desenvolvimento de linhas femininas de quadros.

No Brasil, Renata Falzoni sempre foi defensora de um olhar da indústria nacional para a ergonomia feminina. Com geometrias em geral importadas, muitas bicicletas nacionais eram simplesmente grande demais para o público brasileiro, mulheres ou homens.  Com a chegada de opções mais adequadas por aqui, Falzoni passou a focar na importância do pedivela com tamanho menor, uma garantia de pedeladas mais confortáveis e um prenúncio de para onde a indústria iria evoluir no desenho das bicicletas.

Renata Mesquita lidera o Pelotão das Minas

Quem tiver um olhar mais atento vai notar que a abordagem das marcas em relação aos produtos femininos mudou radicalmente. Hoje, a diferença entre modelos “masculinos” e “femininos” só está clara na seção de roupas das marcas. Afinal, camisas e bretelles para mulheres e homens precisam levar em consideração diferenças anatômicas importantes.

 

O futuro da bicicleta é unissex

Com um departamento de desenvolvimento de produtos no Brasil, a Soul Cycles ainda preserva um único modelo feminino na sua linha. A opção ao mesmo tempo que simplifica a linha de produtos, mostra também uma tendência de mercado. 

Focada em poucos pontos de revenda, a Soul trabalha sempre muito próxima aos lojistas para entender as necessidades dos consumidores finais. Gustavo Zorzo, projetista da marca desde 2016, acompanhou a transição dos modelos femininos para a atual prevalência do conceito unissex. 

A grande explicação, seja nas marcas estrangeiras ou nas nacionais, está justamente na relação entre lojistas e ciclistas. A recente digitalização do bike fit acabou criando um retrato bem amplo da diversidade dos corpos. Uma das constatações foi de que havia mais diferenças anatômicas entre os corpos dos homens do que entre a estrutura física de homens e mulheres.

A escolha por modelos unissex foi um movimento conjunto das marcas e das consumidoras. Para quem fabrica, quadros femininos eram um custo extra que não se refletia em vendas. Para quem comprava, as bicicletas femininas muitas vezes vinham com estampas demais e componentes inferiores.

 

Segredos para a escolha da melhor bicicleta

Praticamente extinto nas lojas, o estereótipo de gênero para os modelos de bicicleta deu lugar às adaptações que fazem a diferença no conforto e rendimento. O bike fit digital deixou claro para consumidoras, marcas e lojas que mais importante que um quadro para elas, são os pontos de contato do corpo com a bicicleta.

No geral, os quadros em tamanhos menores já vem com as adaptações que melhoram o fit com o corpo feminino. Mas garantir o encaixe perfeito envolve escolher as peças certas que ficam em contato com a mão, o pé e a bunda, seja qual o tamanho da mulher e do quadro.

  • Selim mais largo, para encaixe perfeito nos ísquios mais abertos;
  • Mesa no comprimento correto ajustada ao tamanho do tronco;
  • Guidão na largura correta dos ombros;
  • Pedivela mais curto.

Por fim, nas bicicletas com suspensão, é preciso ajustar o SAG (Suspension adjustments Gap) de acordo com o peso da ciclista. Na prática, é garantir que a bicicleta afunde na proporção certa quando a ciclista se senta. Esse número deve sempre ficar entre 10% e 30%.

 

Grupos de pedal para mulheres

Brasil afora, grupos de pedal só de mulheres são uma tendência. (Foto: Patricia Loureiro)

Com a pandemia, a maioria dos grupos parou de sair regularmente, mas algumas dicas ajudam a encontrar parceiras de pedal. A primeira é perguntar na bicicletaria do bairro. Vale também fazer uma busca nas redes sociais. Na falta de opções, chamar uma amiga já é a primeira pedalada.

Sobram exemplos de mulheres que pedalam Brasil afora e liderando grupos que promovem modalidades e usos distintos. Para a realização desse texto, consultamos 3 grandes líderes. Renata Mesquita, Patricia Loureiro e Teresa D’Aprile.

Teresa é uma das fundadoras do Saia na Noite, pedal noturno criado em 1992 em São Paulo focado no lazer. Atleta de downhill, Patricia Loureiro mantém uma escola de pilotagem em Campos de Jordão, onde a maioria do público é de mulheres e casais, iniciantes no MTB cross country. Ciclista de estrada, Renata lidera o Pedal das Minas, que infelizmente está parado, mas que unia as mulheres para girar pela capital paulista.

 

Texto: João Lacerda

 

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